Pela
primeira vez tivemos participação de refugiados nos Jogos Olímpicos o que mudou
muito a vida dos refugiados que participaram e dos próximos que irão enxergar
uma nova esperança através do esporte. Yolande Bukasa e Popole Misenga, ''os dois
judocas congoleses representaram os refugiados mas o sentimento foi de lutar em casa,
literalmente''. Desde 2013 estão vivendo
no Brasil e tiveram toda a torcida
brasileira ao seu lado. Para os dois os jogos já acabaram porém continuaram
treinando e vivendo no Brasil ‘’ para mais um capítulos do sonho olímpico’’.
‘’
Vou continuar no Brasil, sou pai de uma brasileira, minha mulher é daqui e ela
está gravida de novo. Não posso sair mais, tenho que cuidar da minha família.
Aqui já virou o meu país.’’ Disse Popole.
Yolande
sente saudades da família, que ficou na África, mas não pensa em voltar agora.
‘Brasil já é minha casa. Vou ficar aqui, morar aqui. Estou aqui no Brasil
vivendo minha vida aqui. Essa oportunidade foi mandada por Deus.’
Após o frisson da Olimpíada, os dois voltam
aos treinos no Instituto Reação. O instituto os acolheu e os colocou em nível
de competição, com o trabalho do sensei Geraldo Bernardes. Yolande lutou uma
vez, contra a israelense Linda Bolder, e foi derrotada. Já Popole venceu seu
primeiro combate e só parou quando enfrentou o campeão mundial Gwak Dong Han,
da Coreia do Sul.
“Defendi muita
chave, ele quase quebrou meu braço, mas eu falei [para mim mesmo] 'não vou
deixar, não vou bater [desistir da luta]', para mostrar ao mundo inteiro que nós
somos capaz de estarmos aqui. Para mim, fui vitorioso”, diz Popole. “O Popole
voltou. Acho que na próxima competição vou lutar mais, ninguém vai acreditar
que Popole está lutando, melhorando mais”, diz, orgulhoso.
O olhar do judoca
se ilumina ao ser perguntado sobre o apoio dos brasileiros na abertura dos
jogos, no Maracanã, e em sua participação no tatame. “Para mim foi incrível.
Não esperava isso. Eu já tinha botado na minha cabeça que eu era refugiado, que
meu esporte já tinha acabado. Minha esperança de vida já não existia mais.
Agora eu já estou firme, estou voltando. O Popole voltou”.
Além de treinar,
os dois estão nas salas de aula. O primeiro passo é conseguir falar português
com desenvoltura e, então, colocar em dia os estudos. “Agora estou aprendendo
porque na África eu não estudei, por causa da situação da família. Lá na África
a família precisa pagar para estudar. Eu estou aqui, me ajudaram a estudar,
essa oportunidade não pode largar”, diz Yolande.
O orgulho do
treinador também é enorme. Ele garante que os dois fazem parte do Instituto
Reação, independente da Olimpíada. “Eles continuam. Quando foram descobertos
pelo COI, eles já estavam no Reação. Eles são fruto do Reação, a casa deles é o
Reação. Vamos continuar dando treinamento para eles, mais atenção, sendo que
deve ter uma ajuda do COI agora porque viram que o projeto deu certo”.
Na avaliação de
Geraldo, o que os dois fizeram na Olimpíada, sobretudo Popole, pode ser chamado
de “milagre”. Em pouco tempo tiveram que aprender as novas regras do judô e
afiar a luta que já não praticavam em competições há muito tempo. “Acho que o
que eles fizeram foi um milagre. Ela precisa de mais uma melhoria técnica. Ele
precisa de mais treinamento, mais experiência, viajar, participar. Há muito
tempo eles não participavam de nenhuma competição”.
Para Mark Adams,
diretor de comunicações do Comitê Olímpico Internacional (COI), a participação
dos refugiados foi um dos fatos mais marcantes dos Jogos Rio 2016 até agora. “É
muito bom ver o time de refugiados, ver esses atletas competindo é emocionante,
toca a todos. O espírito olímpico é isso, sentir-se parte de alguma coisa. Acho
que vou lembrar dos jogos assim. Esses atletas competindo foi emocionante”.
Adams afirmou que
o COI já estuda com a Agência das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) uma
forma de apoio para a continuidade da delegação de refugiados para os próximos
jogos, em Tóquio 2020. “O COI vem trabalhando com agências da ONU e temos uma
relação próxima da Acnur. Será discutido como eles receberão apoio para
participar de Tóquio”.
Reportagem retirada do site www.agenciabrasil.ebc.com.br